
STUMP ANÁLISE – 29 DE AGOSTO DE 2022
ADRIANO BARCELOS
O meio jurídico em Brasília ficou de cabelo em pé com a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de promover uma série de buscas e apreensões contra empresários de grosso calibre que defenderam “golpe de Estado” em grupo de WhatsApp. A história, aliás, é resultado de uma bela matéria do portal Metrópoles, que você pode ler aqui.
O processo tramita em segredo de Justiça e as informações provenientes do Supremo indicariam que a ação da Polícia Federal, autorizada por Moraes, se deveria tão somente à matéria do Metrópoles. Particularmente consideramos essa uma versão pouco verossímil. Muitos dos personagens do tal grupo de WhatsApp já figuravam em investigação conduzida no STF para apurar atos antidemocráticos desde 2019. Personagens como o empresário Luciano Hang já apareciam como suspeitos de financiamento de supostos disparos de mensagens em favor do então candidato Jair Bolsonaro ainda em 2018.
O 7 de setembro de 2021, com caminhões, buzinas e milhares de pessoas na Esplanada dos Ministérios, se não atingiu a proporção que o já presidente Bolsonaro esperava, foi uma mobilização cuja monta levantou curiosidade sobre a forma como foi financiada. Investigações sobre o evento integram o bojo do processo de Moraes. Corta para 2022. Bolsonaristas não faziam segredo de que poderiam repetir a dose: 200 anos da Independência; menos de 30 dias antes do primeiro turno; um aparato militar pronto para servir de moldura para os apoiadores do presidente fazerem de tudo-ao-mesmo-tempo uma coisa só, Brasil, independência, Bolsonaro…
RECUO DE EMPRESÁRIOS LEVA A CRER QUE MOBILIZAÇÃO POR ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS SERÁ ESTRANGULADA
Voltando ao começo do texto, o meio jurídico de Brasília ficou espantado. Um dia depois de que Bolsonaro disse no JN que a relação com Moraes “parecia pacificada”, eis que o magistrado autoriza investigação contra aliados dele. A mensagem está clara: Moraes não abrirá mão do papel de xerife da eleição.
Se ele pode fazer o que fez? Até alguém dizer de forma taxativa que não pode, está feito. O resultado é que os grupos de WhatsApp se esvaziaram, empresários investigados dizem que deixarão o país, e o capital foi falar de outra coisa. Moraes, de maneira legítima ou não, gerou uma desmobilização dos ultraricos unidos em torno do presidente. Pessoas que muito têm a perder, na prática, costumam repensar suas atitudes nessas situações – ainda que fiquem a cuspir marimbondos por entender que o STF usurpa (e muito) seu papel.
Os planos do governo para o 7 de setembro de 2022 já vinham cambaleando. O desfile militar do Rio de Janeiro não será em Copacabana, como o presidente queria. Também não será na Presidente Vargas, onde sempre foi. Será no posto 6 da Avenida Atlântica, perto do Forte, da estátua de Dorival Caymmi e das bancas de pescadores que vendem peixe fresco para quem passa. Anticlímax.
Na segunda-feira passada, Bolsonaro disse que aceitaria o resultado das eleições – com ressalvas. No dia seguinte, seu candidato a vice, general Braga Netto disse que aceitaria o resultado – mas sem ressalvas. Na quinta passada, a rádio CBN veiculou reportagem em que militares teriam procurado a campanha de Lula para dissipar qualquer suspeita de desrespeito ao resultado das urnas. Até mesmo grupos ligados a Igrejas Evangélicas, infantaria primeira do pelotão da campanha de Bolsonaro, já teriam começado um processo de distensionamento e de reaproximação com Lula, o primeiro colocado nas pesquisas.
A eleição não está decidida, muito longe de estar. Talvez hoje vencê-la seja a única alternativa para o presidente. Pesquisas qualitativas indicam que quando Bolsonaro ataca as urnas eletrônicas ele perde apoiadores mais ao centro, ou seja, fica mais perto da derrota. Já a agitação popular que, em muitos momentos e para muita gente, pareceu ser o plano A, parece ter-se esvaído, pelo menos em volume e poder de ignição.
Notem que a Pax Alexandrina, que a entourage do presidente tanto saudou, não durou cinco dias. Mas isso é assunto para um outro momento.
O Stump Análise é um instrumento técnico cujo objetivo é projetar, antecipar e prever o que acontecerá, de acordo com convicções resultantes de nossa expertise. Analisamos temas da Agenda Nacional e não necessariamente nossas predições representam o que gostaríamos que acontecesse e tampouco torcemos para que o projeto político de A ou B prospere ou fracasse. Não julgue nossas previsões sob qualquer prisma político – mas fique à vontade para nos cobrar se não estiverem corretas.