Esquerda frágil e receita antiga devem levar Ibaneis à reeleição no DF – com votos de “petistas” e “bolsonaristas”

STUMP ANÁLISE – ESPECIAL ELEIÇÕES

ADRIANO BARCELOS

A não ser que algo muito surpreendente ocorra, Ibaneis Rocha (MDB) será reeleito governador do Distrito Federal. E mais: com votos tanto de eleitores de Jair Bolsonaro (PL) quanto de Lula (PT). 

Ibaneis é bolsonarista, isso ele não nega e nem há porque negar. Depois de um período de desatino, coisa de neófito, quando chegou a dizer que disputaria a Presidência da República em 2022, fez o realinhamento que queria. Se manteve ao lado do presidente mesmo no auge da pandemia da Covid-19 e resistiu às pressões para que o presidente fosse multado por promover aglomerações e não utilizar máscara. Fez ouvidos de mercador, apesar da grita geral. 

Ibaneis demorou tanto a vacinar a população de Brasília que, quem pôde, burlou o sistema sem dó nem piedade e foi se vacinar na rede SUS dos Estados de Goiás e Minas Gerais. O contraste era tanto que se criou até uma piadinha de humor pandêmico na ocasião: “Ibaneis vacilou, Caiado vacinou”, uma referência ao governador goiano Ronaldo Caiado (UNIÃO). 

Fato é que o eleitor de Brasília (vamos dizer do Distrito Federal, para ficar mais acurado) é bastante peculiar. Apesar de alguns lapsos de voto à esquerda, o que impera na política candanga são os clãs familiares, de cunho popular, como os Roriz – ou mesmo os Arruda. 

Embora se alardeie que “o DF é a unidade federativa com PIB per capita mais alto”, a realidade é que existe uma ilha de prosperidade forjada no serviço público – centralizada no Plano Piloto, lagos Sul e Norte, Águas Claras e algumas partes de outros “bairros’ – cercada por comunidades de classe média, baixa e até mesmo baixíssima. Pois é nesse DF, longe dos tapetes verdes e azuis do Congresso Nacional, das vitórias-régias do Itamaraty e das carpas do Alvorada que a política de Brasília de fato acontece. 

Não sem maldade, se comenta que um político será endeusado no “quadradinho” se fizer três coisas: regularização fundiária, obras públicas e assistência social. Invasões, grilagem e outras práticas parecem intermináveis em Brasília. Sempre há uma “cidade-satélite” ou região administrativa “à espera de regularização”. Nas comunidades pobres, não é exagero dizer que aquele que permite a uma família regularizar o terreno em que mora ganha sua gratidão eterna. E seu voto. Pois bem: Ibaneis fez as três coisas. Com destaque para as obras: o pó vermelho do chão do Cerrado voou alto nesses quatro anos.

Pesquisas colocam Ibaneis na casa dos 40% da preferência do eleitor. Depois dele, aparecem, com variações, Leia do Vôlei (PDT) Paulo Octávio (PSD), Leandro Grass (PV) e Izalci Lucas (PSDB). Eles aparecem com entre 5% e 15%. Longe, mas muito longe, de Ibaneis.  As mesmas pesquisas indicam que Ibaneis tem uma rejeição inferior aos 30%: na Ciência Política, esse percentual indica uma acentuada tendência de reeleição.

REJEIÇÃO INCRIVELMENTE BAIXA E CONCORRENTES DE POUCA EXPRESSÃO FAZEM DE IBANEIS FAVORITO

Ibaneis surpreendeu ao vencer em 2018. Ex-presidente da OAB/DF, notoriamente rico, fez uma campanha brilhante e aproveitou-se de um momento político conturbado, sem a presença das grandes “famílias” na urna, para correr por fora. Em 2022, ele repete a campanha brilhante: em suma, a mensagem é que ele gostaria de ter feito mais, mas que a pandemia impediu. Ou seja, quer mais quatro anos. Tudo indica que sua vontade será feita.

A esquerda se despedaçou em 2022. O PT não teria nenhum nome para apresentar. Erika Kokay bateu pé para ir à reeleição na Câmara Federal. O PSB não conseguiu manter de pé a candidatura de Rafael Parente, abatido pelo desânimo diante da falta de força do campo progressista. Ninguém se preocupou, Lula não fez nada para ter um palanque melhor em Brasília. Como que para fazer um afago em um aliado numa eleição perdida, Lula topou deixar a tarefa com Grass e o PV.  

A 30 dias do primeiro turno, Ibaneis prudentemente não vincula ostensivamente sua campanha à do presidente da República – pela reeleição, o governador joga xadrez. Pela primeira vez, uma pesquisa na semana passada mostrou Lula à frente de Bolsonaro em Brasília (Correio/Opinião – Lula 39% x 37,6% Bolsonaro). Nada parece atrapalhar Ibaneis, seja no voto IbaLula ou Bolsoneis. 

O Stump Análise é um instrumento técnico cujo objetivo é projetar, antecipar e prever o que acontecerá, de acordo com convicções resultantes de nossa expertise. Analisamos temas da Agenda Nacional e não necessariamente nossas predições representam o que gostaríamos que acontecesse e tampouco torcemos para que o projeto político de A ou B prospere ou fracasse. Não julgue nossas previsões sob qualquer prisma político – mas fique à vontade para nos cobrar se não estiverem corretas

Deixe um comentário