Viés conservador e bolsonarismo orgulhoso: desafio de Lula é frear a onda rival

STUMP ANÁLISE

ADRIANO BARCELOS

Faltando 20 dias para o segundo turno das eleições, absolutamente não há previsões seguras sobre o resultado das urnas. Lula tem as pesquisas, mas mesmo elas indicam que o eleitor baixou a guarda diante de Jair Bolsonaro. A rejeição impeditiva do primeiro turno parece estar se dissipando. 

Bolsonaro também é um homem de sorte: a economia melhorou. Veio uma deflação, mesmo que inacessível ou insignificante para as classes mais baixas. O desemprego caiu, ainda que as novas vagas sejam mais precárias do que as que havia antes da pandemia da Covid-19. O barril do petróleo Brent sobe no Exterior para a casa dos US$ 95. A Opep vai cortar produção, mas essa conta recairá sobre o preço dos combustíveis apenas depois de 30 de outubro. 

Em resumo, para o brasileiro médio não há entusiasmo, mas também não há revolta. E está provado que, para se reeleger um presidente da República, as coisas podem até estar “mornas” – só não podem estar ruins. 

Hoje o patrimônio de Lula são os 6.187.159 votos que fez a mais que o adversário. Além disso, vá lá: Lula tem o apoio dos 3º e 4º colocados, respectivamente Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Apoios que, aliás, são uma incógnita. O eleitor tem uma ideia formada e apenas uma fração do total de votantes do primeiro turno segue a indicação do seu candidato para o segundo turno. Porém, se esses apoios contam pouco na transferência de votos, doem muito quando vão para o lado adversário. 

A vantagem de Lula não é pequena, numericamente. Mas falta literatura que indique como se comportará o eleitor no segundo turno. É a primeira vez que um presidente candidato à reeleição sai das urnas atrás do adversário e, se Lula vencer, será a primeira vez desde a redemocratização que um presidente não sai reeleito. Em 2018, Bolsonaro chegou na frente e agregou 8,5 milhões de votos entre um turno e outro. Haddad acrescentou outros 15,6 milhões – e, ainda assim, perdeu.

O que se nota na arrancada da campanha de segundo turno é uma dupla depressão: lulistas lamentando que, com mais 1,8 milhão de votos, teria saído vencedor no dia 2; bolsonaristas lamentando que sua crença na subversão das pesquisas se confirmou, mas apenas em parte. Analisando friamente, a esquerda tem mais razões para preocupação. Vejamos:

  1. Lula chegou à frente graças a uma votação arrebatadora no Nordeste, mas digamos que há pouco para onde crescer na região no segundo turno;
  1. Tarcisio de Freitas é o favorito para o governo de São Paulo, principalmente por contar com o apoio dos demais derrotados. 
  1. A conversão do eleitor paulista de tucanos para bolsonaristas, iniciada em 2018, se consolidou e ainda tem potencial para crescer no segundo turno – Lula venceu em São Paulo capital e ainda ficou 1,7 milhão de votos atrás do presidente; 
  1. A base sólida do eleitorado de Bolsonaro é maior do que as pesquisas apontavam. Por ser uma campanha em que o elemento “religioso” está presente, esses apoiadores podem partir para uma “guerra santa”, algo absolutamente sem paralelo no modo da Esquerda fazer política.
  1. A solidez da base popular do bolsonarismo pode trazer ainda um segundo efeito colateral: para que Lula vença, é preciso que a abstenção no segundo turno seja homogênea nas cinco regiões do país. Se o Norte e o Nordeste não comparecerem às urnas, a vantagem do PT pode se esboroar. 

APOSTA STUMP: CAMPANHA DE LULA VAI PARA O TUDO OU NADA E O RESULTADO DISSO É IMPREVISÍVEL, FAZENDO EM 4 SEMANAS O QUE NÃO FEZ EM 4 ANOS

Nem tudo são flores para Bolsonaro, obviamente. As pesquisas indicam que Lula aparece à frente já no segundo turno. Importante lembrar que os institutos erraram feio ao apontar a votação de Bolsonaro – mas acertou, por aproximação, ao determinar a intenção de votos em Lula, Simone, Ciro e os demais. No segundo turno, basta que as sondagens captem corretamente a votação de Lula outra vez. 

Se nada de muito diferente acontecer, Lula será eleito. Bolsonaro precisa produzir a onda, Lula precisa freá-la. A metáfora do futebol nos mostra que é mais fácil se defender, destruir as jogadas adversárias, que construir – propor o jogo. O primeiro turno trouxe como lição que o discurso de Bolsonaro teve mais penetração que o esperado. A mensagem de Lula precisará ser mais simplificada. A campanha decidiu disputar com o presidente o voto evangélico. Uma simples visita a uma loja maçônica causou estragos em Bolsonaro, isso admitido por aliados dele.

 Antigos esqueletos do armário bolsonarista, as entrevistas de outros tempos vieram à tona. Há muitas, sobre diversos temas, que seguirão surgindo. O presidente é visto como “autêntico” por suas bases. Mas, só com suas bases, por grandes que sejam, ele não produzirá a virada de que tanto necessita. 

O presidente responde esgarçando o orçamento público para um esforço final. Com a subida do tom da campanha petista, com conteúdos eficazes mas de gosto duvidoso, Bolsonaro pode lucrar junto ao eleitor de centro na leitura de que “são iguais” e que “nenhum merece o voto”, derrubando o comparecimento dos eleitores de Tebet e Ciro e aumentando o peso do seu próprio eleitor no cômputo dos votos válidos. O PT fará em quatro semanas um jogo que não fez em quatro anos, e o risco disso é evidente. E, no meio disso tudo, há os debates. 

Mas isso é assunto para um outro Stump Análise.

O Stump Análise é um instrumento técnico cujo objetivo é projetar, antecipar e prever o que acontecerá, de acordo com convicções resultantes de nossa expertise. Analisamos temas da Agenda Nacional e não necessariamente nossas predições representam o que gostaríamos que acontecesse e tampouco torcemos para que o projeto político de A ou B prospere ou fracasse. Não julgue nossas previsões sob qualquer prisma político – mas fique à vontade para nos cobrar se não estiverem corretas

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