Etarismo político: a idade de Lula será uma questão em 2026?

Foto Ricardo Stuckert/PR

ADRIANO BARCELOS

Brasil e Estados Unidos possuem diferenças no que diz respeito a suas escolhas políticas. Em que pese o fato de que ambos são democracias, os sistemas eleitorais são diversos e as culturas políticas de parte a parte foram construídas sobre bases distintas. A tal maturidade democrática americana se provou falaciosa ao longo deste século. As fragilidades brasileiras, na contra-mão, podem ser relativizadas. Como dito à exaustão, a nossa democracia passou por seu maior teste de estresse – e vingou.

A política é dinâmica e períodos eleitorais, em tempo de internet, se provam vertiginosos. A dinâmica de exclusão de Joe Biden, por motivos de manifesta senilidade, foi uma verdadeira aula de ataques e contra-ataques eleitorais. Ele é um homem velho, e seria talvez inviavelmente velho em 4 anos, quando deixaria um eventual futuro e hipotético novo governo. Donald Trump, diante do tabuleiro de xadrez, foi vítima de seus próprios desejos. Tanto quis tomar a rainha das peças negras, que entregou de bandeja seu próprio rei. Xeque-mate. Atacou Biden a ponto de eliminá-lo, e trouxe para si o fato novo que exterminou o fator empático do tiro que sofrera na orelha: Kamala Harris.

A espada que empunhou voltou-se contra o pescoço de Trump. De detrator a detratado. Até domingo, Biden era o homem mais velho a querer governar um dos maiores arsenais atômicos do mundo. Hoje, é ele, o bronzeado-alaranjado ex-presidente. 

DESTINOS DO BRASIL PASSAM FREQUENTEMENTE POR INTERESSES AMERICANOS

No Brasil, há quem acompanhe a eleição americana com desdém. Há quem acompanhe com interesse. Há até quem torça pra um candidato ou pra outro. Blergh. Demonstrações cabotinas à parte, a eleição americana, sim, nos diz respeito. A extrema direita mundial se movimenta com aspirações globalistas – algo que eles dizem desprezar. Uma vitória de Trump seria, também, uma vitória bolsonarista. Não são poucos os que dizem que se Trump estivesse dentro da Casa Branca em 8 de janeiro de 2023 o destino do Brasil poderia ser outro. Esse impulso globalista de extrema direita não pode ser ignorado. Sem bandeira na janela nem adesivo no carro – mas a eleição dos Estados Unidos é da nossa conta. Sim.

A queda de Biden nos projeta sobre outro paralelo importante: como estará Lula em 2026? Será um homem de 81 anos e, ainda que nada sugira uma senilidade semelhante a de Biden (que também tem 81), não se pode ignorar que essa pode ser uma pauta da próxima eleição presidencial.

O que achamos que pode acontecer? Na verdade, tudo depende do resultado das eleições americanas. Se Trump vencer, o bolsonarismo, com ou sem Bolsonaro, poderá ganhar oxigênio. Se perder, além de uma derrota da extrema direita global, ficará um exemplo bastante didático: atacar um adversário por conta de sua idade pode desgastá-lo a ponto de uma novidade qualquer, uma Kamala da vida, poder surgir e completar a tarefa.  

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