Para encher o copo

ROBERTO JARDIM

bobgarden@gmail.com

Terminados os Jogos Olímpicos de Paris, em meio à ressaca pela falta de adrenalina de provas, partidas, apresentações e disputas por medalhas, pipocam aqui e ali os balanços sobre a participação do Brasil. E, como sabemos todos, os números cabem em qualquer análise e teoria que quisermos. Ou seja, muitos verão o copo meio vazio. Outros, meio cheio.

Vejamos! Se pegarmos o Produto Interno Bruto, mais conhecido como PIB, nosso país é o nono do mundo. Dessa forma, se o resultado nos esportes dependesse apenas de uma equação econômica, deveríamos estar em nono no quadro de medalhas. Mas fechamos Paris em 20º. Ou seja, o copo terminou meio vazio.

Se formos pelo Índice de Desenvolvimento Humano, o famoso IDH, que calcula a qualidade de vida por questões como educação e saúde, figuramos no ranking na 89ª posição. Se projetado essa colocação o pódio, isso significaria apenas um bronze. Ou seja, com três ouros, sete pratas e dez bronzes, o copo terminou meio, ou até, bem cheio.

Ainda vendo nesses termos, pensando na riqueza de cada país, ficamos atrás do Uzbequistão e do Quênia – copo meio vazio. Mas terminamos à frente de nações como Bélgica e Dinamarca – meio cheio, mais uma vez. Para sermos mais otimistas, na relação medalha/PIB per capita, o Brasil não fez nada feio, aparecendo à frente até da China, segunda colocada no quadro geral.

É necessário irmos além dessas comparações, porém. Precisamos chegar a uma conclusão sobre o que queremos ver nas próximas edições de Olimpíadas. Se continuaremos com o copo ora meio cheio, ora meio vazio, ou se queremos ele cheio de uma vez. Prefiro essa segunda opção. E para chegarmos lá, temos investir. E muito ainda.

Participação brasileira começou a mudar a partir de Atlanta

Se formos ver em termos de histórico olímpico, podemos notar que até os Jogos de 1992 tivemos um desempenho pífio. De 1896, em Atenas, a Barcelona, somamos exatos 39 pódios – sendo a melhor marca em Los Angeles, 1984, com oito (um ouro, cinco pratas e dois bronzes). A partir Atlanta, em 1996, demos um salto, chegando a 131 medalhas – o recorde foi em Tóquio, em 2020, com 21 (sete ouros, seis pratas e oito bronzes).

Ou seja, com a popularização da transmissão das Olimpíadas ano a ano a partir da redemocratização, políticas públicas e aporte privado no esporte de alto rendimento, os resultados começaram a aparecer. Só não podemos investir apenas em atletas que dão resultados. É necessário formar atletas, investindo na base, nas escolas públicas e privadas.

Por quê? Bom, é na infância e na adolescência que surge o interesse pelo esporte. É a partir dos nossos colégios que vamos conseguir novos apaixonados pelos esportes. Seja como atleta ou como torcedor. Melhor ainda, é por meio do esporte que podemos formar cidadãos melhores, mais educados, mais saudáveis, longe do tráfico de drogas e da violência em geral.

Precisamos, e muito, aproveitar a “febre das conquistas” para investirmos nos esportes nos quais estivemos no pódio – afinal, como disse o medalhista de prata da marcha atlética Caio Coimbra, o Brasil é o país do futebol e do esporte que está vencendo. Não podemos deixar de lado, no entanto, outras potencialidades.

Atletas precisam deixar de ser lembrados apenas de quatro em quatro anos

Afinal, nossos atletas conseguiram ótimos resultados em esportes nos quais nunca tivemos representatividade – como a ginástica rítmica. Ao mesmo tempo, porém, perdemos espaço em outros, como boxe e judô. Assim como no basquete, modalidade na qual já fomos campeões mundiais (no masculino, em 1959 e em 1953, e no feminino, em 1994).

E para isso, temos que ampliar as políticas públicas – não esqueçamos que medalhistas como Rebeca Andrade (um ouro, duas pratas e um bronze), Bia Souza (ouro no judô) e Isaquias Queiróz (prata na canoagem) surgiram assim. Assim como os investimentos privados para manter o ganha pão dos atletas de alto rendimento.

Afinal, como comentou Marcus D’Almeida, brasileiro que figura como primeiro do ranking mundial no tiro com arco, os atletas não morrem depois da Olimpíada. Ou seja, o próximo ciclo olímpico começou logo depois da festa de encerramento em Paris.

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