RelGov para todos: com soluções em escala, toda instituição ou empresa pode ter voz em Brasília

Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O cenário político e econômico brasileiro é extremamente dinâmico e influenciado por inúmeros “atores”.

O ambiente é complexo, com um Congresso em que coabitam um cipoal de partidos, frentes parlamentares, comissões, lideranças, departamentos, regimentos e tudo o mais que estampa jornais e programas de TVs e que não necessariamente são compreendidos por aqueles que gostariam de participar do processo decisório em Brasília.

Para atravessar essa “selva” com segurança, é preciso ser conduzido por alguém que conheça os caminhos e fareje os perigos. O guia adequado é o profissional de “RelGov” – Relações Governamentais e Institucionais.

Mas o que são Relações Governamentais?

As Relações Governamentais são o conjunto de práticas e estratégias adotadas por instituições e empresas para estabelecerem diálogo e interação com os poderes públicos. Essas práticas envolvem o acompanhamento de políticas públicas, a participação em consultas e audiências públicas, a realização de lobby e advocacy, entre outras formas de engajamento com o governo.

A importância do RelGov no contexto brasileiro

No Brasil, onde a burocracia governamental é gigantesca e a tomada de decisão política pode ser complexa e demorada, o papel do RelGov ganha ainda mais relevância. Por meio dessas relações, as instituições e empresas podem apresentar suas demandas, propor soluções e defender seus interesses de forma legítima e transparente. Acompanhar o andamento de centenas de projetos de interesse também exige um esforço e um conhecimento técnico apurados.

Fato é que, no estreito mercado de RelGov brasileiro, as ações têm sido dominadas por grandes empresas e organizações com maior poder de influência. Pequenos empreendedores, organizações sociais e instituições que prestam serviços imensuráveis ao Brasil simplesmente não alcançam as mesas de decisão. Isso não precisa necessariamente ser assim: é essencial democratizar o acesso ao RelGov e permitir que todas as instituições, independentemente do seu tamanho ou recursos, tenham a oportunidade de fazer parte do processo decisório.

Soluções em escala: tornando o RelGov acessível a todos

Para promover a participação ampla e inclusiva no processo político, é necessário buscar soluções em escala que facilitem o engajamento de todas as instituições e empresas interessadas em Brasília. Algumas medidas podem ser implementadas nesse sentido:

1. Plataformas de engajamento online

O uso de plataformas digitais para conectar instituições e empresas com os tomadores de decisão é uma maneira eficiente e acessível de participação política. Essas plataformas podem oferecer ferramentas para o envio de propostas, realização de consultas públicas e acompanhamento de projetos de lei, aproximando diferentes atores do governo.

2. Capacitação e orientação

Como se faz? Muitas vezes, pequenas instituições e empresas não têm conhecimento ou recursos para se envolverem nas Relações Governamentais. Promover a capacitação e fornecer orientação sobre como participar de forma eficaz pode ser uma forma de incentivar a sua participação e ampliar a diversidade de vozes no cenário político.

3. Parcerias e redes de colaboração

Se o serviço fica inacessível para uma pequena empresa e instituição isolada, por que não unir forças e otimizar custos? Fomentar parcerias e redes de colaboração entre instituições pode fortalecer a atuação coletiva no RelGov. Associações setoriais, coalizões de organizações afins e grupos de interesse podem aumentar a representatividade e a visibilidade de suas pautas, tornando-se mais influentes nas discussões com o governo.

Na prática, RelGov bem feito é bom para as empresas, pro parlamento e para o país. As Relações Governamentais são um elemento essencial para a construção de um ambiente político e econômico mais justo e inclusivo. Ao democratizar o acesso ao RelGov e promover soluções em escala, todas as instituições e empresas podem ter voz em Brasília, contribuindo para a construção de políticas públicas mais abrangentes e representativas.

É importante que a sociedade como um todo compreenda a importância dessas práticas e apoie iniciativas que visem a tornar o processo político mais democrático e transparente. Somente com o engajamento de todas as vozes será possível construir um país mais justo e equitativo, onde o diálogo entre governo e sociedade seja uma realidade para todos.

Quer saber mais sobre RelGov e sobre soluções de escala que possibilitam o acesso ao serviço a clientes de todos os portes? Visite o site stump.comunica.com ou mande um e-mail para nós:

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Os riscos ao contratar uma empresa de comunicação: salas envidraçadas, endereços pomposos e anglicismos gratuitos – fuja das aparências!

ADRIANO BARCELOS

A comunicação é um pilar fundamental para o sucesso de qualquer negócio ou empreendimento. Ela é a ferramenta que permite que uma empresa se conecte com seu público-alvo, transmita sua mensagem de forma clara e eficiente, e construa uma imagem sólida e positiva no mercado. Contratar uma empresa para cuidar da comunicação é uma decisão que não deve ser tomada irrefletidamente. Dar “a sua voz” para qualquer um pode resultar em consequências desastrosas.

No mundo atual, onde a internet e as redes sociais têm um papel preponderante, a comunicação ganhou outra projeção. Uma única postagem mal pensada, um conteúdo inadequado ou uma resposta fora de sintonia com um cliente insatisfeito podem repercutir negativamente em escala local, nacional ou até global. Ao escolher a empresa responsável por sua comunicação, empregue critérios sólidos e bem fundamentados.

Antes de bater o martelo, é imprescindível realizar uma pesquisa detalhada sobre a reputação, experiência e qualidade do trabalho da empresa em questão. Busque referências, analise cases de sucesso anteriores e procure saber como a agência se comportou diante de desafios e crises em outras parcerias.

Outro ponto crucial é a afinidade. A empresa possui valores e princípios alinhados aos da sua organização? A comunicação, além de eficiente, precisa ser ética e coerente com a missão e visão do seu negócio. Uma empresa que não comunga dos mesmos valores pode acabar transmitindo mensagens contraditórias, causando danos à imagem da empresa contratante.

A capacidade de entender o público-alvo e se adaptar aos diferentes canais de comunicação é outra característica a ser considerada. Uma agência competente saberá segmentar a mensagem de acordo com o perfil de cada público, garantindo uma comunicação mais eficaz e impactante.

Uma pergunta que muita gente se faz é: como aferir a boa comunicação? Ou, indo ainda mais longe, como fazer para – além dos achismos – diferenciar uma boa comunicação de uma comunicação ruim? Para isso, é essencial que a empresa contratada seja transparente em relação às suas estratégias e resultados. A comunicação é uma área que pode ser mensurada, e a agência deve apresentar relatórios claros e objetivos, mostrando o desempenho das ações realizadas.

Mais do que tudo, comunicação é uma via de mão dupla. Uma empresa que realmente se preocupa com a comunicação deve estar, antes de tudo, aberta ao diálogo e sempre disponível para ouvir sugestões e feedbacks. 

Ao terceirizar os serviços de comunicação para uma empresa especializada, você está adquirindo o conhecimento e a experiência de profissionais que entendem as nuances e sabem como se comunicar efetivamente com o seu público. Mas não se deixe levar pelas aparências: andares envidraçados, endereços pomposos, café espresso à vontade e CEOs engravatados e de fala salpicada de expressões em inglês macarrônico escondem trabalhos inconsistentes – por preços exorbitantes. 

Fuja!

O lobby será regulamentado no Brasil. Se você não fizer, seu concorrente fará

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Nos últimos anos, o debate em torno do lobby tem ganhado cada vez mais força no Brasil. Enquanto alguns veem essa prática como controversa, é importante reconhecer que o lobby pode trazer benefícios significativos para as empresas e instituições de todos os tamanhos. Com a iminente regulamentação do lobby no país, é crucial que as empresas estejam prontas para aproveitar essa oportunidade.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que o lobby não é exclusivo de grandes corporações. Empresas de todos os portes podem se beneficiar ao participar das decisões políticas do país. Seja para defender interesses específicos, propor mudanças legislativas ou buscar parcerias estratégicas, o lobby pode ser uma ferramenta poderosa para ampliar a influência das empresas e garantir que suas vozes sejam ouvidas.

Além disso, quem investir em lobby primeiro terá uma clara vantagem competitiva. A regulamentação do lobby trará transparência e regras claras para essa prática, o que significa que as empresas que já estiverem engajadas nesse processo terão a oportunidade de moldar essas regras de acordo com seus interesses. Ao estabelecer relacionamentos com políticos e formadores de opinião, as empresas podem influenciar de forma mais efetiva as políticas públicas e garantir que seus interesses sejam levados em consideração.

Não participar do lobby pode representar um grande risco para as empresas. Enquanto você hesita, seus concorrentes podem estar se movendo rapidamente para garantir uma posição de destaque nas discussões e decisões políticas. Ao fazer lobby, você pode defender seus interesses, proteger seus investimentos e garantir que as políticas públicas estejam alinhadas com seus objetivos de negócios. Ignorar essa oportunidade pode deixar sua empresa em desvantagem perante a concorrência.

Em suma, a regulamentação do lobby no Brasil é iminente e as empresas devem estar preparadas para participar ativamente desse processo. O lobby não é exclusivo das grandes corporações, mas sim uma estratégia que pode ser utilizada por empresas de todos os tamanhos.

Quem investir nessa prática primeiro terá uma vantagem competitiva, enquanto aqueles que optarem por ficar de fora correrão o risco de perder espaço para seus concorrentes. Portanto, é hora de agir e garantir que sua empresa tenha voz nas grandes decisões do país, influenciando o futuro de sua indústria e protegendo seus interesses.

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Só aposta contra o apoio do Centrão a Lula quem não conhece o Centrão. Nem Lula.

ADRIANO BARCELOS

Este analista jamais acreditou que o presidente Lula teria problemas em construir sua maioria no Congresso Nacional. O “Congresso mudou”, diziam; “o Congresso está mais conservador”, insistiam. Mas, na prática, contabilizados os números e a distribuição das cadeiras entre os partidos, se via uma conformação numericamente não muito distante das médias históricas. É mais do mesmo.

E, afinal, que Congresso era esse? A direita está mais inflamada. O radicalismo é muito bom para engajar e os recortes de vídeos estão aí para isso. Redes sociais precisam ser alimentadas. A esquerda está onde sempre esteve, sem usufruir da grande votação de Lula, mas presente e combativa. 

O que define as coisas no plenário, porém, é e sempre será uma certa massa ideologicamente amorfa, chamada Centrão. O Centrão às vezes tem 250 deputados, às vezes tem 300. Às vezes tem mais, às vezes tem menos.

CENTRÃO DETESTA SER OPOSIÇÃO. E COM RAZÃO

O Centrão jamais foi hostil a Lula. Até porque o Centrão, para ser Centrão, precisa ser governista. Necessariamente. As poucas experiências do “Centrão de Oposição” foram trágicas para o país – mas mais trágicas ainda para o próprio Centrão. 

Vamos pegar a experiência mais recente, quando Eduardo Cunha levou o Centrão para a oposição a Dilma e trabalhou pelo impeachment. Dilma perdeu a cadeira, mas Cunha acabou preso e os articuladores do afastamento se involucraram no governo Michel Temer. Consequência: foram severamente punidos pelas urnas em 2018. O MDB, identificado como o patrocinador da ruptura, viu sua bancada encolher e nomes como Romero Jucá, Eliseu Padilha, Osmar Terra e Darcísio Perondi ou perderem seus mandatos ou minguaram suas votações.

O CENTRÃO É VENAL? NO BRASIL TALVEZ NÃO HAJA COMO SER DIFERENTE

O Centrão ronca grosso, é da natureza. O Centrão quer nacos (fatias cada vez maiores) do poder, e isso é perfeitamente do jogo. Nos rincões do Brasil profundo, muitas vezes o parlamentar não é avaliado pela beleza de seus votos ou de seus relatórios na Comissão de Assuntos Públicos – mas sim pela sua capacidade de carrear recursos e obras para suas bases. Goste-se. Não goste-se. O Brasil é assim, a nossa democracia foi construída sobre esses pilares e essa é uma discussão deliciosa, mas que vai ficar para outra hora. 

A métrica de valoração do Centrão é bastante curiosa: governo ruim, o apoio custa mais caro. Governo ruim e mal avaliado, o apoio custa ainda mais. Governo regular, um pouco menos; governo bom, custa bem menos. Os primeiros seis meses de Lula foram conturbados porque a calibragem dessa valoração estava complicada. Em 100%, a Faria Lima dizia que o governo iria afundar na economia (não é hipérbole, é pesquisa de opinião); nos primeiros oito dias de mandato, Lula lidou com uma tentativa de golpe de Estado, e, por fim, a relação do agronegócio dono do PIB  com o governo só piorava. As cabeças brancas do Centrão, então, se perguntavam: quanto, afinal, vale esse governo? 

A primeira fase da busca pela resposta veio pela seleção natural. O Centrão não gostava de Alexandre Padilha mas, mais que isso, o Centrão queria Lula à mesa. Não queria intermediário. Lula veio. Arthur Lira, o presidente da Câmara, queria alguma entrega para coroar sua presidência. A reforma tributária era um texto maduro e cansativamente discutido no Congresso por décadas e estava apenas à espera de um patrocinador que pagasse as emendas e desse o impulso final. Lula topou. As boas notícias começaram a aparecer e a impressão de que o governo Lula flopparia foi-se dissipando: a precificação ficou mais clara e o Centrão passou a considerar a sociedade com o governo em termos reais, como sempre sonhou desde o início. 

LULA NÃO É UM ESTADISTA. E ISSO NÃO NECESSARIAMENTE É RUIM

Lula não é um estadista. Nunca será. Lula é um político pragmático e que tem metas bastante claras em sua cabeça. Ele quer que as pessoas possam comer. Ele quer que a dona de casa tenha uma geladeira. Ele quer que os filhos da periferia possam cursar uma universidade. Boa parte da classe média, inclusive a progressista, torce o nariz. Acha pueril. “Quem quer uma geladeira, que compre”, pensa a jovem de camiseta da UERJ dentro de seu apartamento na Tijuca, a Maria Antonieta do DCE. Mas não é nada disso. A geladeira da senhora da Pavuna é muito mais relevante para o país que a Marcha da Maconha ou os bambolês cintilantes da Praça São Salvador. Essa é outra discussão que vai ficar para depois.

Lula não tem uma visão de Brasil para 2070. Se tem, não faz a menor ideia de como alcançá-la. Ele quer que as soluções se desenhem como que por revelação. Ele parece acreditar que, com condições adequadas de temperatura e pressão, todos vão encontrar seu caminho por conta própria. Talvez seja uma versão própria de meritocracia e é natural que assim seja, pra quem veio do Nordeste em caminhão pau de arara, se tornou torneiro-mecânico e acabou presidente do Brasil, realmente nada parece impossível. Como planejamento, por vocação, não é o nosso forte, talvez até ele esteja certo. E nós errados.

O fato é que “Lula ser como é” casa perfeitamente com as características do Centrão. Ambos são pragmáticos e o pragmatismo pode ser algo extremamente positivo. Em um país onde tudo urge, saber o que se quer é largar sempre na frente. 

* O Stump Análise é um instrumento técnico cujo objetivo é projetar, antecipar e prever o que acontecerá, de acordo com convicções resultantes de nossa expertise. Analisamos temas da Agenda Nacional e não necessariamente nossas predições representam o que gostaríamos que acontecesse e tampouco torcemos para que o projeto político de A ou B prospere ou fracasse. Não julgue nossas previsões sob qualquer prisma político – mas fique à vontade para nos cobrar se não estiverem corretas

Se tudo na sua empresa é profissional, por que a comunicação é amadora?

No mundo corporativo atual, onde as empresas buscam manter uma imagem profissional em todas as suas operações, é surpreendente constatar que muitas organizações negligenciam um aspecto fundamental: a comunicação. Embora os processos e os produtos possam ser de alta qualidade, uma comunicação amadora pode prejudicar seriamente a reputação e a eficácia de uma empresa.

Vamos apontar alguns pontos sobre a importância de uma comunicação profissional no ambiente empresarial, destacando os benefícios e as melhores práticas para garantir uma comunicação eficiente e coesa em todas as áreas da organização.

  1. Imagem corporativa consistente: Uma comunicação amadora pode criar uma imagem desconexa e inconsistente para uma empresa. Quando as mensagens não são claras, coerentes ou profissionais, os clientes e parceiros comerciais podem ficar confusos ou, pior ainda, perder a confiança na organização. Por outro lado, uma comunicação profissional transmite uma imagem de confiança, credibilidade e competência, estabelecendo uma base sólida para relacionamentos duradouros com os stakeholders.
  2. Eficácia nas relações internas: A comunicação amadora pode levar a falhas de comunicação entre os membros da equipe, resultando em mal-entendidos, atrasos em projetos e falta de alinhamento. A clareza e a eficácia da comunicação interna são essenciais para o bom funcionamento de uma organização. A adoção de práticas de comunicação profissional, como reuniões regulares, uso de ferramentas colaborativas e transparência nas informações, fortalece os laços entre os colaboradores e melhora a produtividade.
  3. Relacionamento com os clientes: A comunicação é um fator determinante na experiência do cliente. Uma comunicação amadora, seja por meio de atendimento telefônico ineficiente, respostas de e-mails tardias ou falta de clareza nas informações fornecidas, pode afetar negativamente a percepção dos clientes sobre a qualidade dos produtos ou serviços de uma empresa. Por outro lado, uma comunicação profissional e ágil demonstra cuidado e consideração com os clientes, aumentando sua satisfação e fidelidade.
  4. Alinhamento estratégico: Uma comunicação profissional é essencial para transmitir a visão, os valores e os objetivos estratégicos de uma empresa. É por meio da comunicação eficiente que as lideranças conseguem alinhar toda a equipe em torno de um propósito comum. Quando a comunicação é amadora, as mensagens-chave podem se perder ou serem mal interpretadas, resultando em desalinhamento e falta de engajamento por parte dos colaboradores.

Em um ambiente empresarial altamente competitivo, onde a imagem e a reputação são fundamentais, negligenciar a comunicação é um erro que pode ter consequências graves. A comunicação profissional é crucial para manter a consistência da imagem corporativa, melhorar a eficácia interna, construir relacionamentos sólidos com os clientes e garantir o alinhamento estratégico em toda a organização. Investir em práticas e ferramentas de comunicação adequadas é um passo fundamental para o sucesso empresarial e o fortalecimento da marca no mercado atual.

Já pensou sobre isso?

Lula não vencerá, por ora, a batalha dos juros. Mas a autonomia do BC também não será a mesma

STUMP COMUNICA

Centrais Sindicais protestam contra juros altos em frente ao prédio do BC, na Avenida Paulista. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

ADRIANO BARCELOS

“Sem saber que era impossível, foi lá e fez”. A frase, de autoria do poeta francês Jean Cocteau, ilustra muito bem aquele sentimento que hermana os gênios disruptivos e os destrambelhados sem noção. Como é costumeiro à filosofia de baixa categoria, a classificação específica do ato não se dá pela razão, motivação ou qualidade – mas pelo produto final. Reembalando o conceito: a diferença entre um gênio disruptivo e um destrambelhado sem noção é somente o resultado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é alguém escolado em desconhecer o impossível, sua própria trajetória denuncia. Seu pendor por perseguir seus objetivos é conhecido e, de posse da faixa presidencial e superada a ameaça de golpe de Estado de 8 de janeiro, Lula identificou um risco potencial a seu projeto de governo: a taxa de juros.

Na gestão Jair Bolsonaro, houve a consolidação da autonomia do Banco Central. O Brasil é um país marcado pela instabilidade e, afinal, despartidarizar o Banco Central parecia uma boa ideia. “Muitos países de primeiro mundo têm BC independente”, foi o argumento uníssono que escorreu pelas calçadas da Faria Lima, molhando as rodas dos patinetes elétricos. 

PECADOS DE CAMPOS NETO LEGITIMARAM LULA, MAS ESTRANHO SERIA SE NINGUÉM PERCEBESSE

Acontece que Campos Neto, o presidente do BC, cometeu pelo menos dois pecados que minaram o lustro “técnico” que seria desejável para quem pleiteia isenção: se misturou demais com bolsonaristas e entregou a taxa de juros mais alta do planeta. O que ele fez para domar a inflação (não conseguiu, ficou fora da meta), convenhamos, é fácil demais. É como pôr o ovo em pé quebrando a sua base: enxugou o crédito e reprimiu o consumo, baqueando a inflação (e o PIB). Pelo outro lado, o BC independente é alguém que faz contas para os outros pagarem. Com juros de 13,75% ao mês na Selic, o Tesouro (dinheiro dos impostos) pagou R$ 586 bilhões pelo “serviço da dívida pública” – R$ 1,6 bilhão por dia, sem folgas nem sábados, nem domingos, nem feriados. 

Lula, então, fez o que ninguém havia pensado em fazer: protestou. Protestou. Criticou Campos Neto, chamou-o de “aquele rapaz”. A grita da imprensa, especializada e bem pouco especializada, veio forte. Quem Lula pensava ser, afinal a Faria Lima inteira diz que o juro é alto porque o governo gasta demais etc, etc, etc???? O bloco monolítico da crítica a Lula foi fazendo água com o andar dos dias. André Lara Resende, tucano insuspeito, um dos pais do real, chocara o establishment ao concordar com Lula: a dívida pública brasileira é em moeda nacional, a relação dívida x PIB do Brasil não é diferente de outros países do mesmo porte etc, etc, etc. O setor produtivo, engolfado pela disputa ideológica de 2022, foi aos poucos eclodindo, com vozes fortes do varejo e da indústria dizendo que talvez, é verdade, os juros estejam altos demais. 

O que Lula fez, ao discutir o indiscutível, possui uma designação específica e já foi estudado na academia. Em português, tem o pouco atrativo nome de “Janela de Overton”, cunhada em referência a Joseph Overton, ex-vice presidente do Centro de Políticas Públicas de Mackinac, de Michigan (EUA). Grosso modo, a Janela de Overton consiste observar, sobre determinado assunto, que aspectos podem ser abordados antes que a autoridade seja rejeitada pela opinião pública; a partir disso, a autoridade pode reenquadrar o debate, a partir de aspectos diferentes do mesmo tema e, a partir daí, levar a sociedade (ou parte mais engajada dela) a repensar o impensável. 

A Janela de Overton é um conceito que precisa ser visto com cuidado. Em parte, porque foi marginalizado: no século XX foi visto como método de “manipulação” e que envolvia princípios maquiavélicos aplicados por empresas de “PR” sem escrúpulos, à guisa de fazer a sociedade tolerar mudanças intoleráveis em troca de milhões de dólares nos bolsos dos Midas da comunicação social de Manhattan. Não parece a faixa de terreno onde Lula pisa. Antes, pode ser visto como uma reação simplória – ou até uma blindagem para eventuais fracassos econômicos do governo que começa, por que não? 

Lula se deu conta de que não faz diferença descontentar ou não a Faria Lima. Uma pesquisa do Genial Quaest divulgada em 15 de março revelou que 100% dos integrantes do “mercado financeiro” não têm boas expectativas sobre Lula. Sim, isso mesmo: em valores nominais 98% – com a margem de erro, 100%. Como bem ilustrou Reinaldo Azevedo, o que a pesquisa traz de novo é que o etéreo “mercado” pode ser arbitrado em 82 pessoas, os entrevistados. Parece razoável.

GRITARIA DA ESQUERDA VAI DAR EM NADA, JUROS BAIXARÃO QUANDO CAMPOS NETO ACHAR QUE DEVEM  

Assim sendo, por que Lula faria diferente? Campos Neto deu uma entrevista de gosto duvidoso ao Roda Viva, da TV Cultura, em que diz que meninos que pedem dinheiro no sinal hoje em dia oferecem suas chaves pix. É meio como o comandante do Titanic se orgulhar da madeira de que é feito o timão do navio e ignorar que ele afundou. Mas ainda não foi tudo: o melhor que Campos Neto conseguiu dizer foi que o governo merece um voto de confiança, como se o mandato popular já não bastasse para convalidá-lo. 

A julgar pelos 82 guerreiros da enquete da Quaest, Lula sabe que não contará com o apoio do capital financeiro. O crescimento, se vier, virá do consumo das famílias e de investidores estrangeiros, pouco familiarizados com o fla-flu político nosso de cada dia. 

Mesmo assim, Lula usou sua Janela de Overton para empurrar o juro para baixo e isso foi inédito, no sentido de que não havia sido dito antes. Sobre esse fato, pairam duas notícias, uma boa e outra ruim:

Gritar na porta do BC, com bandeiras vermelhas e faixas escrito “Fora Campos Neto” não garante que o juro vai baixar. Aliás, nem favorece. Se o “arcabouço fiscal” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passar sem contestações, o caminho parece ser menos sobressaltado e mais efetivo.     

 Ou seja, objetivamente o juro não baixará porque Lula assim o quer. Não baixará, também, por conta da gritaria da esquerda e da contestação da ala sensata do capital brasileiro de que sim, os juros não precisam estar na estratosfera para conter a inflação – que sequer ficou dentro da meta em 2022.

O que importa disso é que o Banco Central seguirá independente, até pela falta de ideia melhor. Só não haverá mais licença para que seja imperial. Ou alheio à realidade. Para os economistas de mercado, a sociedade é composta de números que pululam de um canto a outro nas planilhas de excel. Pois os números não sabiam que podiam reagir. Agora sabem.

Lula supera pior momento da campanha e PT atua para “desconstruir”Bolsonaro 

STUMP COMUNICA

ADRIANO BARCELOS

Quando a apuração acabou, na noite de 2 de outubro, Lula vivia ali seu pior momento de campanha: a militância havia reservado a avenida Paulista, no centro de São Paulo, para a festa que não veio. Pior que isso, o presidente Bolsonaro, ameaçador, aparecia apenas 6 milhões de votos atrás – arrancada não identificada por nenhuma pesquisa eleitoral. Na Globo News, articulistas atônitos viam como natural que as primeiras pesquisas do segundo já trouxessem Bolsonaro na dianteira na semana seguinte.

O raciocínio, silencioso, era lógico: quem trabalha com marketing político sabe que uma eleição é feita de “ondas”, ou de tendências, para ficar na técnica: na maioria dos casos, o rumo de uma campanha é quase palpável, se solidifica no ar. Quem sabe ler pesquisas, por questionáveis que sejam, aprende que toda pesquisa é uma foto de 4 dias atrás – mas entende também que um conjunto sólido de sondagens é um delineador de tendências futuras. 

ATÉ O PRIMEIRO TURNO, ESQUERDA NÃO HAVIA SE CONVENCIDO DE QUE BOLSONARO TINHA BASE POPULAR. ELE TEM. E NÃO É PEQUENA.

Voltando a Bolsonaro, tudo indicava que o presidente se consolidaria como competitivo para o segundo turno de uma forma que nunca fora desde o princípio. As razões eram múltiplas, mas passavam principalmente pelo reconhecimento de que suas bases populares são mais sólidas do que se imaginava. 

O 2 de outubro também deixou evidente que os bolsonaristas não estavam tão isolados quanto se supunha e que o indicativo de rejeição a Bolsonaro trazido pelas pesquisas ao longo do tempo não era real. 

Pois bem, se o presidente esteve pressionado durante toda a campanha e parecia ter chegado ao momento crucial (1º turno) na posição mais confortável que poderia ocupar, era de se esperar que ele passasse a reger sua orquestra de camisas da Seleção e, enrolado na bandeira nacional, fosse construir o favoritismo diante de um adversário privado de quase tudo – de cargos, de palanques fortes, de apoio do capital financeiro e, mais que tudo, da caneta que benesses distribui e que humores (maus) administra.

Mas falamos de Bolsonaro e uma coisa sobre Bolsonaro que todos no seu entorno atestam é que o presidente se movimenta com mais confiança no caos. Administrar uma situação tranquila por quatro semanas, até o segundo turno, seria simples para a maioria das pessoas – mas um inferno para o capitão. Há ainda uma segunda idiossincrasia bolsonariana que salta aos olhos: ele sempre se considera pressionado e, se não está na mira de alguém, age como se estivesse. Pois bem, o adversário está longe de ser desprezível: o PT venceu quatro eleições presidenciais neste século e perdeu apenas uma. Logicamente, haveria reação. E houve. 

APOSTA STUMP: DESCONSTRUÇÃO DE BOLSONARO RETIRA ÍMPETO E PODE AMPLIAR REJEIÇÃO

O PT no segundo turno tirou as luvas de pelica e desceu ao ringue (de sabão): aderiu à desconstrução de Bolsonaro, coisa que não havia feito até então; e, mais surpreendente, entrou em um terreno que desde a fundação, há 40 anos, o partido não trilha, o da “guerra santa”. 

A primeira parte, a da desconstrução, era bastante previsível. Com a lógica das “bolhas”, favorecidas pelos algoritmos das redes sociais, entusiastas de cada um dos candidatos recebem apenas as informações que reforçam as convicções que já possuem. Já o grupo que não discute política, ou que não se empolgou com nenhum dos dois candidatos, não é atingido por uma série de conteúdos. A chance de furar a bolha são os latifúndios de TV que Lula e Bolsonaro receberam no horário eleitoral e nas inserções na programação. Transmitida a mensagem, resta o trabalho de reembalar o conteúdo para as redes e ampliar a parafernália eleitoral – tarefa que o PT deixou por conta do deputado federal reeleito André Janones. 

A primeira ação de desconstrução foi resgatar um vídeo de Bolsonaro em uma Loja Maçônica – um vídeo trivial para muita gente, mas devastador para o público evangélico. O vídeo viralizou e o PT, finalmente, compreendeu que religião é sim uma pauta política relevante. Já não bastava defender a liberdade religiosa, era preciso agir para que o núcleo duro de fiéis devotos e pastores deixasse de ser um bloco monolítico em torno da candidatura de Bolsonaro. Apoiadores do presidente bradavam que o PT no poder fecharia igrejas, coisa que absolutamente não fez em 3 mandatos e meio no Planalto. A coesão deles, se não fosse quebrada, poderia gerar um movimento pela reeleição quase irresistível.

Lula entendeu, foi além, e trabalhou pela elaboração de uma carta aos evangélicos. A cartada, inédita, gerou um contexto que levou Bolsonaro a cometer erros em profusão. Os erros iniciais produziram outros, em uma espiral da Guerra Santa que desestabilizou Bolsonaro. Ele foi questionado em uma semana de um jeito que não fora em quase 4 anos: o presidente estava confortável como supercristão, o candidato que é evangélico e católico ao mesmo tempo. As autoridades católicas que cruzaram seu caminho trataram de tirá-lo do pedestal. O vídeo inexplicado e inexplicável sobre as meninas venezuelanas, mesmo que tenha sido removido da campanha de Lula por decisão (vejam só) de Alexandre de Moraes, fez um rasgo no casco do navio do presidente da República.

Bolsonaro, como que procurando por encrenca, derrapou em duas das mais importantes festas católicas do país num intervalo de três dias: foi acusado de oportunismo no Círio de Nazaré, em Belém (PA), e criticado duramente na Festa de Nossa Senhora de Aparecida, a padroeira do Brasil, em Aparecida (SP). No segundo evento, a situação foi ainda pior porque seus apoiadores, bebendo e aos gritos, hostilizaram clérigos, jornalistas e todos que julgassem não apoiar o presidente. Lula, dias antes, dissera que não iria aos dois eventos para não parecer que exploraria a fé alheia. Bingo. Jogou parado e viu de camarote o rival queimar nas labaredas da opinião pública. 

A estratégia do PT era tirar Lula do debate rasteiro. No ringue das pesquisas, o Datafolha da semana que passou indica que Bolsonaro teria 51% de rejeição e Lula, 46%. Associar Lula à desconstrução de Bolsonaro poderia desequilibrar essa balança a favor do presidente. No debate da Bandeirantes, o primeiro do segundo turno, Lula passou ao largo das polêmicas da campanha eletrônica – satanismo, maçonaria, canibalismo e etc. Ironicamente, o único que tratou desses assuntos foi o próprio Bolsonaro que resolveu enaltecer (!!!) a decisão favorável a ele, pela exclusão do conteúdo relativo ao suposto caso de pedofilia, propalada por Moraes no TSE. 

A essa altura da disputa, difícil imaginar que haverá uma mudança profunda na cabeça do eleitorado. Quem votou em Bolsonaro não trocará para Lula, nem o contrário. Há um filão de votos ligados a Simone Tebet e Ciro Gomes, há também o contingente de eleitores que disseram anular ou votar em branco. Há, por último, o grupo de pessoas pré-dispostas à abstenção. Esses são os votos em disputa, que serão assediados nas próximas duas semanas. 

A desconstrução de Bolsonaro, a essa altura da campanha, pode enfraquecer a vontade de votar, ampliar abstenções e etc. Mas a imagem do presidente junto a seus eleitores convictos é bastante sólida e não deverá mudar consideravelmente.

Se a eleição fosse vista como um jogo de futebol, poderia se dizer que Lula saiu do primeiro tempo (turno) ganhando de 1 x 0; Na volta do intervalo, a expectativa era de pressão de Bolsonaro e de seu time, mas Lula catimba, afasta a bola como pode. O jogo parece administrado, mas nada impede um gol de empate ou até uma virada nos 5 minutos finais. Ainda tem os acréscimos do juiz. 

Haja coração. 

O Stump Análise é um instrumento técnico cujo objetivo é projetar, antecipar e prever o que acontecerá, de acordo com convicções resultantes de nossa expertise. Analisamos temas da Agenda Nacional e não necessariamente nossas predições representam o que gostaríamos que acontecesse e tampouco torcemos para que o projeto político de A ou B prospere ou fracasse. Não julgue nossas previsões sob qualquer prisma político – mas fique à vontade para nos cobrar se não estiverem corretas

Viés conservador e bolsonarismo orgulhoso: desafio de Lula é frear a onda rival

STUMP ANÁLISE

ADRIANO BARCELOS

Faltando 20 dias para o segundo turno das eleições, absolutamente não há previsões seguras sobre o resultado das urnas. Lula tem as pesquisas, mas mesmo elas indicam que o eleitor baixou a guarda diante de Jair Bolsonaro. A rejeição impeditiva do primeiro turno parece estar se dissipando. 

Bolsonaro também é um homem de sorte: a economia melhorou. Veio uma deflação, mesmo que inacessível ou insignificante para as classes mais baixas. O desemprego caiu, ainda que as novas vagas sejam mais precárias do que as que havia antes da pandemia da Covid-19. O barril do petróleo Brent sobe no Exterior para a casa dos US$ 95. A Opep vai cortar produção, mas essa conta recairá sobre o preço dos combustíveis apenas depois de 30 de outubro. 

Em resumo, para o brasileiro médio não há entusiasmo, mas também não há revolta. E está provado que, para se reeleger um presidente da República, as coisas podem até estar “mornas” – só não podem estar ruins. 

Hoje o patrimônio de Lula são os 6.187.159 votos que fez a mais que o adversário. Além disso, vá lá: Lula tem o apoio dos 3º e 4º colocados, respectivamente Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Apoios que, aliás, são uma incógnita. O eleitor tem uma ideia formada e apenas uma fração do total de votantes do primeiro turno segue a indicação do seu candidato para o segundo turno. Porém, se esses apoios contam pouco na transferência de votos, doem muito quando vão para o lado adversário. 

A vantagem de Lula não é pequena, numericamente. Mas falta literatura que indique como se comportará o eleitor no segundo turno. É a primeira vez que um presidente candidato à reeleição sai das urnas atrás do adversário e, se Lula vencer, será a primeira vez desde a redemocratização que um presidente não sai reeleito. Em 2018, Bolsonaro chegou na frente e agregou 8,5 milhões de votos entre um turno e outro. Haddad acrescentou outros 15,6 milhões – e, ainda assim, perdeu.

O que se nota na arrancada da campanha de segundo turno é uma dupla depressão: lulistas lamentando que, com mais 1,8 milhão de votos, teria saído vencedor no dia 2; bolsonaristas lamentando que sua crença na subversão das pesquisas se confirmou, mas apenas em parte. Analisando friamente, a esquerda tem mais razões para preocupação. Vejamos:

  1. Lula chegou à frente graças a uma votação arrebatadora no Nordeste, mas digamos que há pouco para onde crescer na região no segundo turno;
  1. Tarcisio de Freitas é o favorito para o governo de São Paulo, principalmente por contar com o apoio dos demais derrotados. 
  1. A conversão do eleitor paulista de tucanos para bolsonaristas, iniciada em 2018, se consolidou e ainda tem potencial para crescer no segundo turno – Lula venceu em São Paulo capital e ainda ficou 1,7 milhão de votos atrás do presidente; 
  1. A base sólida do eleitorado de Bolsonaro é maior do que as pesquisas apontavam. Por ser uma campanha em que o elemento “religioso” está presente, esses apoiadores podem partir para uma “guerra santa”, algo absolutamente sem paralelo no modo da Esquerda fazer política.
  1. A solidez da base popular do bolsonarismo pode trazer ainda um segundo efeito colateral: para que Lula vença, é preciso que a abstenção no segundo turno seja homogênea nas cinco regiões do país. Se o Norte e o Nordeste não comparecerem às urnas, a vantagem do PT pode se esboroar. 

APOSTA STUMP: CAMPANHA DE LULA VAI PARA O TUDO OU NADA E O RESULTADO DISSO É IMPREVISÍVEL, FAZENDO EM 4 SEMANAS O QUE NÃO FEZ EM 4 ANOS

Nem tudo são flores para Bolsonaro, obviamente. As pesquisas indicam que Lula aparece à frente já no segundo turno. Importante lembrar que os institutos erraram feio ao apontar a votação de Bolsonaro – mas acertou, por aproximação, ao determinar a intenção de votos em Lula, Simone, Ciro e os demais. No segundo turno, basta que as sondagens captem corretamente a votação de Lula outra vez. 

Se nada de muito diferente acontecer, Lula será eleito. Bolsonaro precisa produzir a onda, Lula precisa freá-la. A metáfora do futebol nos mostra que é mais fácil se defender, destruir as jogadas adversárias, que construir – propor o jogo. O primeiro turno trouxe como lição que o discurso de Bolsonaro teve mais penetração que o esperado. A mensagem de Lula precisará ser mais simplificada. A campanha decidiu disputar com o presidente o voto evangélico. Uma simples visita a uma loja maçônica causou estragos em Bolsonaro, isso admitido por aliados dele.

 Antigos esqueletos do armário bolsonarista, as entrevistas de outros tempos vieram à tona. Há muitas, sobre diversos temas, que seguirão surgindo. O presidente é visto como “autêntico” por suas bases. Mas, só com suas bases, por grandes que sejam, ele não produzirá a virada de que tanto necessita. 

O presidente responde esgarçando o orçamento público para um esforço final. Com a subida do tom da campanha petista, com conteúdos eficazes mas de gosto duvidoso, Bolsonaro pode lucrar junto ao eleitor de centro na leitura de que “são iguais” e que “nenhum merece o voto”, derrubando o comparecimento dos eleitores de Tebet e Ciro e aumentando o peso do seu próprio eleitor no cômputo dos votos válidos. O PT fará em quatro semanas um jogo que não fez em quatro anos, e o risco disso é evidente. E, no meio disso tudo, há os debates. 

Mas isso é assunto para um outro Stump Análise.

O Stump Análise é um instrumento técnico cujo objetivo é projetar, antecipar e prever o que acontecerá, de acordo com convicções resultantes de nossa expertise. Analisamos temas da Agenda Nacional e não necessariamente nossas predições representam o que gostaríamos que acontecesse e tampouco torcemos para que o projeto político de A ou B prospere ou fracasse. Não julgue nossas previsões sob qualquer prisma político – mas fique à vontade para nos cobrar se não estiverem corretas

Bolsonaristas acreditam que Congresso que sairá das urnas será “mais à Direita”. Talvez eles tenham razão

FOTO PP/DIVULGAÇÃO

STUMP ANÁLISE

ADRIANO BARCELOS

O governo de Jair Bolsonaro está marcado pelo fortalecimento inédito do Congresso Nacional. E isso é resultado da maneira como o presidente se movimenta politicamente. Em vez de ir para o debate no Legislativo, o governo se cercou de líderes e ministros palacianos pouco gabaritados na condução política. Por aí, entenda-se militares e parlamentares de primeiro mandato. A coalizão de Bolsonaro se dá pela via orçamentária e assim o governo construiu sua maioria, ponto. Goste-se ou não. 

Foi resultado de uma experiência de “tentativa e erro”, que começou pelo erro. Em 2019, sob o rótulo de “nova política”, o Planalto chegou a reverberar que “ignoraria os partidos” e faria maioria com as bancadas temáticas de Direita na Câmara, da Bíblia, da Bala, ruralistas e etc. O problema é que “os temáticos” não são um bloco monolítico e, no entrelaçamento de interesses, notou-se que fica impraticável avançar qualquer pauta a partir de afinidades de ocasião. 

A nova política do primeiro ano de Bolsonaro era, no fundo, uma política de novatos. Planos revistos, ortodoxia no poder: era preciso atrair as siglas do Centro. Com o tempo perdido, a via expressa era terceirizar parte considerável do orçamento, o que teria como efeito colateral enfraquecer o Executivo. Foi o que se fez, não sem consequências em 2023, seja Bolsonaro, Lula, Ciro Gomes, Simone Tebet ou o Constituinte Eymael o próximo presidente. 

O ministro-chefe da Casa Civil e ex-dilmista senador Ciro Nogueira (PP-PI), espécie de porta-voz eleitoral do Planalto para assuntos da campanha de Bolsonaro, fez uma projeção arrojada: “o Congresso que virá será ainda mais à Direita do que o que temos hoje”.

Dizer isso na perspectiva de eleição de um presidente da República de Esquerda, sabendo-se desde sempre do magnetismo da disputa presidencial, seria uma temeridade. Mas por quê, mesmo que Lula vença, Ciro Nogueira pode estar certo?

DIREITA PARECE TER SE PREPARADO MELHOR PARA A BATALHA PELO CONTROLE DO PARLAMENTO

As razões viriam de todos os lados, da competência eleitoral da Direita à incompetência eleitoral da Esquerda. A Direita alcançou um nível de penetração social inédito na Nova República, e isso fica evidenciado na expressão das manifestações/comemorações do bicentenário da Independência. O discurso simpático à Direita está hoje presente em cada Templo Evangélico, em cada pregador que leva a palavra de Cristo de portão em portão das periferias do Brasil. E nem é só isso.

Do ponto de vista da comunicação social, o governo Bolsonaro é um sucesso pela singeleza: é feito de mensagens simples, com personagens de fácil compreensão (o astronauta Pontes, a Damares, o policial injustiçado, o militar da logística e etc). Esse conjunto circula rápido pelas redes e garante a unidade de discurso, importantíssima nos dias atuais.

E a Esquerda com isso? Boa parte da Esquerda se “sofisticou” neste século, durante os governos Lula e Dilma Rousseff. A ideia de “trabalhar as bases”, de “conscientizar o cidadão” e de que os partidos de Esquerda, em especial o Partido dos Trabalhadores, são e sempre serão oriundos das camadas populares, se enfraqueceu tanto na prática quanto no discurso.

Desde que a Teologia da Libertação foi sufocada na Igreja Católica, ainda na década de 90, o único contato direto da Esquerda com a população mais humilde era pela via sindical – até que a reforma trabalhista do governo Michel Temer asfixiou os sindicatos ao desobrigar o pagamento da contribuição sindical. De 2017 para cá, o valor arrecadado pelos sindicatos caiu inacreditáveis 97,5%. Os sindicalistas desapareceram e a vontade de gastar os chinelos nas vilas, idem. 

Além disso, o mercado de trabalho mudou e a Esquerda não viu. A carteira assinada, por escassa, deixou de ser sonho de consumo. Veio no lugar o “empreendedorismo”, a “pejotização” e a ideia de que patrões e empregados podem chegar a um acordo capaz de fazer todo mundo feliz. Para este mundo, faça sentido ou não, a Esquerda não se preparou, não tem discurso e nem compreensão. 

A aposta de Ciro Nogueira pode estar correta por outros motivos mais: os partidos da Direita montaram nominatas mais competitivas na maioria dos Estados. Grandes puxadores de votos, fenômenos populares e novatos promissores, capazes de “furar a bolha”, parecem ter vida mais fácil na Direita. 

À Esquerda, até por certa acomodação interna e deputados já no cargo que preferem proteger seus redutos em vez de ampliar a bancada, haverá menos novidades na urna. Ilustrativo é o caso do jornalista Marcos Uchôa, ex-TV Globo.  Ele concorreria a deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro mas desistiu porque o recurso prometido para sua campanha não apareceu. Se não houve cuidado com ele, o que se dirá de outros: com Freixo fora da disputa e os mesmos nomes de sempre, é bem provável que o mais votado no Rio seja um candidato de Direita. Em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, a expectativa não é diferente.

APOSTAMOS QUE EFEITO LULA FARÁ O PT CRESCER NA CÂMARA, MAS BOLSONARISMO DEVERÁ MANTER SEU PESO

Então, que Congresso sairá das urnas em outubro? Nossa aposta é de que, a se confirmar a onda Lula, o PT sairá maior que em 2018, mas não chegará a 90 deputados (hoje tem 56); O PL de Bolsonaro não deverá oscilar muito (hoje tem 77 deputados). Partidos de Esquerda e centro-esquerda, excluído o PT, deverão crescer pouco; Partidos de Direita e centro-direita, excluído o PL de Bolsonaro, deverão diminuir um pouco; e o Centrão propriamente dito deverá inchar com mais voracidade. 

Pesquisa Datafolha da última semana indica que apenas 31% dos eleitores já têm candidato para deputado federal. Muitos decidem na última semana. Muitos no último dia. Muitos na última hora. É por isso que cabos eleitorais jogam santinhos ao chão, no dia da votação. Eleitores definem o voto basicamente catando o papel sobre o solo. Os cabos eleitorais fazem assim desde sempre porque (inacreditavelmente) compensa, ainda que seja crime eleitoral. 

E a aposta dos bolsonaristas? Como ficará? A profecia de Ciro Nogueira, turbinada pelo poder da máquina pública e em certa coesão do eleitorado do presidente da República, tem um aspecto curioso: ao dizer que o Congresso eleito em 2022 será mais à Direita, ele contabiliza os eleitos pelo Centro? Bem se sabe que o Centro que é Direita hoje já foi Esquerda ontem – o próprio Chefe da Casa Civil que o diga. Em 2014, diante da vitória de Dilma, Ciro Nogueira escrevia o seguinte em seu Twitter:

“Hoje, as urnas retrataram definitivamente a vontade do povo brasileiro de continuar crescendo. O Piauí e o Brasil disseram sim ao desenvolvimento social e econômico, disseram sim a Dilma Rousseff. E nós queremos celebrar esta vitória, que pertence a todos aqueles que não se calam diante das injustiças e que arregaçam as mangas para ir à luta por um País melhor”. 

O Stump Análise é um instrumento técnico cujo objetivo é projetar, antecipar e prever o que acontecerá, de acordo com convicções resultantes de nossa expertise. Analisamos temas da Agenda Nacional e não necessariamente nossas predições representam o que gostaríamos que acontecesse e tampouco torcemos para que o projeto político de A ou B prospere ou fracasse. Não julgue nossas previsões sob qualquer prisma político – mas fique à vontade para nos cobrar se não estiverem corretas

Ciro 2022 sepultou Leonel Brizola: é chegada a hora de esquecer tudo que sabemos sobre o PDT?

STUMP ANÁLISE – 12 DE SETEMBRO DE 2022

ADRIANO BARCELOS

Ciro Gomes (PDT) é uma alternativa de “terceira via” pela esquerda, com propostas antiliberais e que congrega dois grupos de eleitores: petistas desiludidos pós-mensalão e os órfãos de Leonel Brizola, tanto pela coragem em defrontar a Direita, os militares, e a elite, quanto pela defesa das pautas relativas à educação. Correto? Não. Errado. Esse era outro Ciro. E se você pensa assim, você também perdeu o fio da meada.

Esse erro de cálculo é parte da solução que pode dar uma sobrevida ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em um eventual segundo turno. O PT conta com votos que não terá. No debate da TV Bandeirantes ficou evidente que, pasmem, Ciro é o candidato disposto a ajudar o presidente. Talvez o próprio Bolsonaro tenha se surpreendido: ao fim do debate, Ciro foi o único a quem ele endereçou um aperto de mãos. 

Na semana que passou, a pesquisa Ipespe trouxe um dado pitoresco: uma pergunta muito inteligente, excelentemente formulada, cruzou o posicionamento ideológico dos eleitores de cada candidato. Os de Ciro são: 20% eleitores de esquerda; 14% se disseram de centro; 28% não sabem responder e estarrecedores 38% se disseram de direita ou de centro-direita. 

Até então, era possível atribuir o ódio de Ciro contra Lula à mágoa do pedetista pela falta de apoio do PT a ele em alguns momentos-chave da última década. A pedrada veio quando, no debate, Lula usou pela milésima vez o argumento de que Ciro “foi pra Paris” no segundo turno de 2018 e ele respondeu, secamente, que pôde ir para Paris porque não estava preso. Mesmo sabendo que a prisão de Lula foi considerada ilegal pelo STF e que o PDT enquanto partido reconhece isso, o pedetista foi adiante e bateu abaixo da linha da cintura. 

Mas por que o Ciro de 2022 faz o que está fazendo? Porque ele sabe que a turma dele mudou. O tempo registrará que o ato de profissão de fé do PDT em favor dele, na prática, foi uma conversão pedetista à indesejável posição de legenda de aluguel. Ninguém diz a Ciro o que fazer, mas essa autenticidade (que tem um lado saudável) tem também o condão de deixar o PDT nas cordas. Ele recebeu um cheque em branco dos trabalhistas e não tem nenhum receio de usá-lo.

MOVIMENTO DE CIRO SERÁ INÓCUO PARA ELE, MAS DEVERÁ GARANTIR BOLSONARO NO SEGUNDO TURNO 

A candidatura de Lula magnetiza as esquerdas. O PT é o maior partido de esquerda da América Latina e Lula, o maior líder político desse campo no continente. Se Ciro se fixasse na esquerda, teria uma margem muito estreita para se movimentar, nas franjas do eleitorado de Lula. A jogada de um Ciro mais à direita será inócua, mas não deixa de ser inteligente. Antes, precisamos contar uma pequena historinha.

Como Ciro aproveitou o período entre 2018 e 2022? Ele escreveu um livro intitulado Projeto Nacional: Dever da Esperança. Desse ponto em diante, ele fez desse livro a sua Bíblia. Arrumou seus apóstolos, manteve-os por perto, e foi à luta. Ao grupo de apoiadores ferrenhos traçou a alcunha: “A Turma Boa”. A Turma Boa está aí, trollando adversários, desmerecendo concorrentes, apresentando o livro de Ciro como verdade revelada – a palavra da salvação. Antes que me perguntem, o livro não tem nada demais: mostra um Ciro com um pé no keynesianismo e uma série de compromissos políticos que dependem de uma certa boa vontade que seria plausível no parlamento da Noruega, mas que fatalmente não viria do plenário Ulysses Guimarães.

Foi quando 2022 chegou, com Lula no páreo, que Ciro percebeu que a terceira via pela esquerda não rolaria: a saída foi encarnar o tecnocrata “que tem uma ideia”, até para se diferenciar (mas não muito) do presidente Jair Bolsonaro, um político de ideias, gestual e discurso de pouca sofisticação.

O mais estranho é que o PDT não “se ligou” na Turma Boa e nem em sua conversão. A Turma Boa de 2018 era formada em sua maioria por esquerdistas, muitos que estavam com vergonha do arranjo de gosto duvidoso de Lula e do PT, com o ex-presidente preso e candidato e Fernando Haddad aquecendo no túnel de acesso ao gramado. Naquela época, a inocência de Lula não era favas contadas e um certo cheiro de “armação” pairava no ar. O final, todo mundo sabe: Ciro ficou fora do segundo turno, foi para Europa, e na volta reverberou a máxima da direita e que já virou até piada: “A culpa é do PT”. 

Fato é que as notinhas em colunas dos grandes jornais gritam que pedetistas estão em pânico. Cristóvam Buarque, que concorreu a presidente pelo PDT em 2006, chegou a dizer que Ciro deveria desistir de sua candidatura para evitar a reeleição de Bolsonaro. O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, é amigo pessoal de Lula, já foi ministro do Trabalho dele e, ao que se diz, esteve muito perto de tirar o PDT da eleição para apoiar o petista. Com a palavra empenhada a Ciro, segurou a candidatura pouco promissora. O movimento, porém, não incluía dinamitar as pontes com Lula. Em Brasília, dizia-se até mais: mesmo com Ciro candidato, o PDT deverá ter um ministério em um eventual governo do PT em 2023. 

GRANDE PERDEDOR DO MOVIMENTO DE CIRO SERÁ O PDT QUE, AO DAR CARTA BRANCA A ELE, APROFUNDARÁ CRISE DE IDENTIDADE PÓS-BRIZOLA

O susto dos caciques, crescente, não é fruto do acaso. Onde se esperava uma relação cordial do PDT com o PT, até um compadrio em alguns lances do debate, se vê um Ciro agressivo – a ponto de, em uma tirada repleta de etarismo e certa falta de respeito em nível pessoal, ele insinuar que Lula está velho demais para ser presidente. Logo Lula, que sempre disse que gosta de Ciro e tem respeito pelo PDT. Até Leonel Brizola, que em 1989 chamava Lula de “sapo barbudo”, fez sua última campanha como vice dele, em 1998. Ao que consta, as rusgas que ambos tiveram anteriormente não foram para o túmulo do caudilho gaúcho, morto em 2004.

O resultado desse estado de coisas começa a desabrochar em números. Na última pesquisa Datafolha, publicada na sexta-feira, Lula ficou estável e Bolsonaro cresceu dois pontos. Os mesmos dois pontos abandonaram Ciro, de uma pesquisa para outra. Se alguém fazia a conta do voto útil, imaginando que o pedetista poderia dar a Lula os votos de que precisa para se eleger em primeiro turno, pode cair do cavalo. Antes o contrário: o eleitor de Ciro tende a seguir migrando para Bolsonaro, garantindo o presidente no segundo turno.   

À boca pequena, o PDT já falou em estrangular o financiamento de campanha de Ciro e em “enquadrá-lo” na esperança de que ele foque em Bolsonaro nos próximos debates e devolva o partido ao seu histórico de esquerda. Nada disso vai acontecer e ele seguirá dialogando com a Turma Boa. 

Afinal, só ele sabe que a Turma Boa agora é outra.

O Stump Análise é um instrumento técnico cujo objetivo é projetar, antecipar e prever o que acontecerá, de acordo com convicções resultantes de nossa expertise. Analisamos temas da Agenda Nacional e não necessariamente nossas predições representam o que gostaríamos que acontecesse e tampouco torcemos para que o projeto político de A ou B prospere ou fracasse. Não julgue nossas previsões sob qualquer prisma político – mas fique à vontade para nos cobrar se não estiverem corretas